OIT traça cenários para o trabalho em tempos de pandemia

Mais de 10% das horas laborais no mundo devem desaparecer

05/05/2020

OIT traça cenários para o trabalho em tempos de pandemia OIT traça cenários para o trabalho em tempos de pandemia

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que o impacto da Covid-19 faça desaparecer 10,5% das horas de trabalho no mundo, o equivalente a 305 milhões de empregos em período integral (considerando uma semana de trabalho de 48 horas) neste segundo trimestre de 2020. Para as Américas, a previsão é de menos 12,4%, em comparação com os níveis anteriores à crise. A estimativa está na terceira edição de O Monitor da OIT: Covid-19 e o mundo do trabalho, publicada em 29/04.



Para que a sociedade entenda melhor esse cenário, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, convidou Martin Hahn, diretor do escritório da OIT no Brasil, para apresentar os resultados da análise no Aquário Casa Firjan, transmitido online em 29/04. “Demanda-se uma intervenção imediata dos mercados de trabalho para que, no médio prazo, consigamos reverter esses efeitos com bases sólidas para a retomada do emprego. As principais recomendações são políticas voltadas para manutenção do emprego, proteção dos trabalhadores e famílias, da sociedade como todo. Devido a todos os esforços que a Firjan tem desempenhado para conter os danos da crise no estado do Rio, convidamos a organização para fazer essa conferência”, explicou Eduardo Eugenio.



Em todo o mundo, segundo a OIT, mais de 436 milhões de empresas enfrentam a possibilidade de interrupção das atividades, principalmente nas áreas de atacado e varejo (232 milhões), no setor manufatureiro (111 milhões), hospedagem e serviços de alimentação (51 milhões) e imobiliário e outras atividades comerciais (42 milhões). “A OIT defende a adoção de medidas urgentes, específicas e flexíveis para ajudar em particular as empresas de menor porte, os trabalhadores da economia informal e outras pessoas em situação de vulnerabilidade. O desemprego depende das políticas adotadas por governos e empresas”, pontuou. Segundo Hahn, a estimativa é de que o primeiro mês da pandemia no Brasil tenha resultado em uma queda de 81% na renda dos trabalhadores informais



Para a OIT, os quatro pilares de resposta política integrada são: apoiar a economia e o emprego; apoiar as empresas, os postos de trabalho e a renda; proteger as pessoas no local de trabalho; e recorrer ao uso do diálogo social. As medidas para revitalizar a economia devem se basear em uma forte abordagem na criação de empregos, estando amparadas por políticas e instituições mais fortes, sistemas de proteção social mais abrangentes e com melhores recursos. A proteção às empresas e aos empregos deve ter como alvo as pessoas mais vulneráveis.



Para isso, os governos, segundo a OIT, precisam continuar a agilizar a assistência a empresas e trabalhadores, com políticas concentradas no auxílio à renda para manter as atividades econômicas. Para as pequenas empresas, deve-se combinar apoio financeiro direto e garantias de empréstimos. Por sua vez, grandes investimentos públicos direcionados à criação de empregos poderão estabelecer as bases para o crescimento inclusivo e sustentável. “A crise causada pela pandemia vai intensificar as desigualdades. É necessário ter políticas com temas sociais, norteadas por soluções baseadas em consenso”, destacou.



Para a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra e demais organizações internacionais, não há uma única receita. “Cada país tem suas especificidades. Mas as políticas devem estar baseadas na cooperação, diálogo e solidariedade. O desafio exposto é conseguir o equilíbrio para a subsistência dos indivíduos. Medidas difíceis são mais eficazes quando se estimula o diálogo social”, recomendou.



“A OIT é uma das mais antigas organizações internacionais em operação. Suas atividades são muito apreciadas por buscar estabelecer parâmetros técnicos tão importantes no momento”, acrescentou o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, presidente do Conselho Empresarial de Relações Internacionais da Firjan.