O poder da meditação em tempos caóticos

Prática ajuda no desenvolvimento de competências necessárias para os profissionais do futuro

em 26/05/2020

O poder da meditação em tempos caóticos O poder da meditação em tempos caóticos

Por Iuri Campos*

Nos últimos anos, houve um grande aumento no interesse das pessoas pela meditação e, com a pandemia da Covid-19, isso se intensificou ainda mais. Só nas últimas semanas, de acordo com relatório da Google, foi registrado um aumento de 35% em buscas por vídeos de meditação no youtube, comparado ao mesmo período de 2019. Essa busca tem um motivo, a meditação pode ajudar muito no desenvolvimento de competências fundamentais para lidarmos com as demandas de um mundo tão frenético. Pelo menos é que mostram os diversos estudos que vêm sendo feitos nos últimos anos sobre o tema. 

Um dos precursores desses estudos é o neurocientista Richard Davidson, que em 2000 subiu os Himalaias, a convite do próprio Dalai Lama, para escanear os cérebros dos monges e entender, cientificamente, quais eram as reações que aconteciam na mente dessas pessoas tão calmas e focadas. Nesse mesmo ano sequer existiam, no mundo, 50 artigos científicos publicados sobre o tema, de acordo com a American Mindfulness Research Association. As descobertas de Davidson ajudaram a elevar esse número para dezenas de milhares, e explicam parte do sucesso que essa prática possui atualmente na vida das pessoas, das empresas e, inclusive, de grandes líderes. 

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Em termos simples, o que Davidson pode comprovar é que, na medida em que uma pessoa medita, diversas alterações físicas ocorrem em seu cérebro. Podem ser notados, por exemplo, um aumento nas atividades do córtex pré-frontal, que é relacionado a uma visão mais positiva das coisas. Também se observam reduções significativas nas atividades da amígdala, parte do cérebro responsável pelo modo de “ataque ou fuga”, um mecanismo útil quando enfrentamos uma ameaça imediata, mas que também pode levar nosso raciocínio a seguir padrões improdutivos. Com isso, pessoas que meditam conseguem ter maior capacidade de sentir empatia e obter maior acesso a áreas criativas e analíticas do cérebro.

Presente em um dos primeiros Aquários Casa Firjan, em agosto de 2018, a doutora Elisa Kozasa, uma das principais referências da América Latina sobre os efeitos da meditação no campo da neuroimagem, apresentou um estudo comprovando que pessoas que meditam possuem também maior capacidade de foco. Esse trabalho feito por Kozasa em parceria com a universidade Kings College lhe rendeu sua primeira publicação na Neuroimage, a revista mais importante do mundo nesse segmento.

Competências como essas são absolutamente necessárias para os profissionais do futuro e oferecem grandes recursos para o enfrentamento das incertezas e adversidades de um presente tão caótico. Não é à toa que, em 2007, uma das maiores empresas do mundo, a Google, criou, com auxílio do doutor Davidson, o seu próprio programa de treinamento de mindfulness (uma das técnicas de meditação mais difundidas no ocidente, especialmente por ser uma prática laica). A procura e os resultados foram tão positivos que hoje o Search Inside Yourself (Busque Dentro de Você) já formou mais de 50 mil pessoas pelo mundo. 

E se a meditação pode ajudar pessoas comuns, imagine a adoção de grandes líderes à prática. Pois a lista é longa! O criador da Apple, Steve Jobs, descrevia sua experiência com a meditação da seguinte forma: “Você começa a enxergar tudo com mais clareza e se torna mais presente. Sua mente desacelera, e o momento presente se expande. Você enxerga muito mais do que conseguia enxergar antes.” O escritor israelense Yuval Noah Harari, um dos grandes pensadores da atualidade, dedicou um capítulo inteiro à importância da meditação em seu livro “21 lições para o século 21”.

Outra entusiasta da prática é a Oprah Winfrey, uma das mais relevantes comunicadoras do mundo. Ela possui, inclusive, um programa global de meditação com o médico indiano Deepak Chopra. A lista não para por aí: Jeff Weiner, CEO do Linkedin, Richard Branson, fundador do grupo Virgin, Arianna Huffington, co-fundadora do site de notícias The Huffington Post, todos praticantes assíduos. Faltariam parágrafos para continuar com exemplos de grandes líderes adeptos da meditação, mas sigamos para um último sobre potenciais impactos dessa prática na liderança. 

Em 1989, o então técnico do Chicago Bulls, Phil Jackson, apresentou a ideia da meditação ao seu time. Ele acreditava que a prática reuniria os jogadores, os protegeria contra as tensões e, finalmente, os ajudaria a vencer os campeonatos. Em todos os jogos da sua carreira, não houve um em que Jackson não fizesse sessões prévias de meditação, fato confirmado pelo próprio treinador como fator decisivo para o sucesso de suas equipes. Hoje Phil Jackson é o profissional mais vitorioso da história do basquete nos Estados Unidos, tendo treinado nomes como Michael Jordan, Kobe Bryant e Shaquille O'neal e vencido 11 campeonatos como técnico.

Voltar sua atenção para o ar que entra e o ar que sai, com a merecida pausa e sem julgamentos, pode ser o alicerce de uma revolução: a revolução da consciência. O neuropsiquiatra austríaco, Viktor Frankl, dizia: “Entre o estímulo e a resposta há um espaço. Neste espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta está nosso crescimento e nossa liberdade.” Se o que todos esses estudos e casos de sucesso indicam vão servir para você alcançar esse crescimento, só há uma maneira de descobrir. Boa prática! 

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*Iuri Campos é líder do Aquário da Casa Firjan