A sensibilização como abordagem para humanização e valorização das diferenças
Os cursos de formação continuada para educadores da Casa Firjan promovem a sensibilização pela arte para incentivar o engajamento e a criatividade
em 26/11/2024
Por André Ozawa e Geovane Barone*
“EDUCAÇÃO | radical vivo que monta, arrebata e alumbra os seres e as coisas do mundo. Fundamento assentado no corpo, na palavra, na memória e nos atos. Balaio de experiências trançado em afeto, caos, cisma, conflito, beleza, jogo, peleja e festa. Seus fios são tudo aquilo que nos atravessa e toca.” (Luiz Rufino)
No contexto da educação contemporânea, a humanização e a valorização das diferenças são temas centrais para a formação de profissionais da área. Tendo isso em vista, é essencial considerar uma etapa de sensibilização nas práticas pedagógicas como uma abordagem crucial para alcançar esses objetivos, oferecendo um caminho inovador para engajar e inspirar as pessoas educadoras. Mas por que focar na dimensão sensível em cursos de formação continuada? Qual é a conexão entre a sensibilização e a inovação pedagógica?
Estratégias para humanização e valorização das diferenças na educação contemporânea
A ideia aqui é explorar a importância da sensibilização como uma ferramenta para promover a humanização e a diversidade a partir dos quatros passos didáticos do filósofo e professor Silvio Gallo. Nesta etapa, é pertinente utilizar a gama de produção cultural que temos à nossa disposição: um filme, uma fotografia, uma música, uma intervenção teatral, uma pintura podem sensibilizar as pessoas participantes para um tema com grande facilidade.
Após sensibilizar, é preciso problematizar; ou seja, transformar o tema em problema e fazer com que ele desperte em cada um o desejo de buscar soluções. Feita a problematização, passamos para investigação que é a busca de elementos e hipóteses para possíveis soluções dos problemas. Por fim, vamos para a conceituação que é a etapa de recriação de conceitos encontrados que possam equacionar o problema ou mesmo criar novos conceitos para dar possíveis respostas aos problemas investigados. Lembrando que nada impede que a ordem das etapas seja trocada. Tudo depende da intencionalidade docente e do contexto da proposta pedagógica.
Esta abordagem, que utilizamos nos cursos de formação continuada, também pode ser utilizada por todas as disciplinas e em projetos interdisciplinares (relação entre duas ou mais disciplinas escolares) e transdisciplinares (relação de conhecimentos de maneira holística e contextualizada sem se prender a lógica da divisão por disciplinas) na educação básica.
Formação para Educadores da Casa Firjan
A Casa Firjan, desde 2023, tem integrado a sensibilização em seus cursos de formação continuada para educadores, destacando a importância de ir além do conhecimento técnico e abordar aspectos estéticos e criativos da educação. A sensibilização, que envolve a apreciação do estético, a expressão individual e o valor do jogo e da brincadeira, tem sido incorporada como uma estratégia para promover uma aprendizagem mais envolvente e dinâmica.
Como dissemos anteriormente, a aplicação da sensibilização segue os quatro passos didáticos propostos por Silvio Gallo: sensibilização, problematização, investigação e conceituação. Esse método permite uma análise aprofundada das experiências dos educadores, revelando como a sensibilização influencia a autonomia e a criatividade no ambiente de ensino.
Os dados mostram que os participantes dos cursos apresentam um aumento significativo na criatividade e no engajamento, o que contribui para a construção de um ambiente educacional mais inclusivo e sensível às diferenças individuais.
As falas dos profissionais da educação
A combinação de atividades sensibilizatórias com práticas pedagógicas inovadoras tem mostrado ser uma abordagem eficaz para promover um ambiente de aprendizado mais generoso e acolhedor. Ao enfatizar a expressão individual, a formação humanista, a criatividade e a colaboração entre pares e os passos de sensibilização, problematização, investigação e conceituação, os cursos da Casa Firjan têm promovido uma educação que valoriza a diversidade e a participação ativa dos educadores.
Um profissional da educação participante do curso Formação de Formadores disse:
“O curso foi bem agregador na minha área profissional assim como na minha formação pessoal. Os professores foram bem coincidentes e humanizados ao vinculado os conteúdos teóricos aos desafios reais existentes nos variados contextos apresentados em aula, sabendo mobilizar o grupo a refletir sobre suas práticas atuais e futuras. Em minha concepção a turma foi muito interessada sendo interessante a continuidade do curso. O respeito e a escuta sensível dos docentes durante as aulas foram surpreendentes”
Outra participante disse:
"Estar no curso de Formação de Formadores da Casa Firjan tem sido uma experiência de encantamento e possibilidade de reconexão com o meu propósito de pensar constantemente o meu fazer educativo. (...) uma aula impactante do Geovane Barone, onde refleti e compartilhei a respeito dos efeitos da colonização não só nos corpos pretos, mas na nossa forma de pensar e fazer educação.
A lógica ocidental oprime os nossos corpos: enquanto nos separa entre racionais e sensíveis (sendo a cabeça a parte racional), temos nas filosofias Bantu e Iorubá o cuidado com o sensível vindo diretamente da cabeça, o nosso orí e na palavra, o axé, a energia vital que todos nós trazemos à vida para realizar. Nestas filosofias a palavra falada tem lugar de destaque, sendo a oralidade extremamente valiosa.
Não por acaso, a corporeidade foi – juntamente com a língua materna – reprimida pela colonização, separando a dimensão racional do sensível. O sentimento e a expressão nos permitem refletir sobre o mundo ao nosso redor, produzindo experiências significativas e potencializadoras de aprendizagens - no plural, porque todos os saberes devem ser valorizados.”
Nas duas falas acima, podemos ver como esses profissionais da educação destacam como a sensibilização contribuiu para que houvesse um diálogo entre teoria e prática, a não separação entre corpo/mente e o simbólico e o sensível.
Além destes, muitos depoimentos chegaram através da nossa pesquisa de satisfação e postagens nas redes sociais dos/as participantes dos cursos de formação continuada. Esta avaliação é importante para medirmos o impacto de cada proposta de formação docente e indicam que estamos no caminho de uma formação continuada que leve em consideração a abordagem para humanização e valorização das diferenças.
A sensibilização transforma o ambiente educacional
A integração da sensibilização, problematização, investigação e conceituação nos cursos de formação continuada para educadores da Casa Firjan demonstram como essa abordagem pode transformar o ambiente educacional, promovendo a humanização e a valorização das diferenças. Através da aplicação de teorias sobre a estética, a criatividade e a autonomia, é possível criar um ambiente de aprendizagem que não só engaja os profissionais da educação, mas também enriquece o processo de ensino-aprendizagem.
Os resultados positivos obtidos indicam que a sensibilização é uma estratégia eficaz para fomentar um ensino mais inclusivo e dinâmico. Portanto, ela não apenas contribui para o desenvolvimento profissional dos educadores, mas também para a criação de um ambiente educacional mais enriquecedor e acolhedor para todos.
Deste modo, ao integrar arte, estética e criatividade aos cursos de formação continuada, essa abordagem se mostra uma ferramenta poderosa para humanizar e valorizar as diferenças no ambiente educacional. Promovendo a conexão entre corpo, mente e emoção, amplia o olhar dos educadores sobre o ensino, gerando um impacto positivo no engajamento e na criatividade dos participantes. A experiência da Casa Firjan demonstra que, ao unir teoria e prática de maneira sensível, é possível criar um espaço de aprendizagem mais inclusivo, dinâmico e alinhado às necessidades da educação contemporânea.
Como bem disse o poeta Ferreira Gullar no poema “Traduzir-se”. “Uma parte de mim / pesa, pondera: / outra parte / delira /uma parte de mim / é permanente: / outra parte / se sabe de repente”. É preciso mobilizar não só o nosso cognitivo, mas os afetos. Educação se faz por afetos, pela dimensão sensível. As experiências e os laços emocionais moldam quem somos.
Para quem quiser viver esta experiência conosco, basta continuar acompanhando a Plataforma de Conteúdo da Casa Firjan. Aqui, você se mantém informado sobre os novos cursos e pode escolher entre as opções de formação continuada disponíveis.
*André Ozawa é educador e coordenador do portfólio Firjan SESI para educadores da Casa Firjan, e Geovane Barone é ator, arte educador e analista de Inovação Educacional da Casa Firjan.
Referências:
GALLO, Sílvio. A filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. In: SILVEIRA, Renê J. T. Silveira; GOTO, Roberto (Orgs.). Filosofia no ensino médio: temas, problemas e propostas. São Paulo: Edições Loyola, 2007. p. 25-30.
RUFINO, Luiz. Vence-demanda: Educação e Descolonização. Rio de Janeiro: Mórula, , 2021. Edição Kindle. p.4