O que a Educação significa para você?

Provocações para um debate sobre a educação do futuro

em 12/12/2024

O que a Educação significa para você?

Por Luciana Chamarelli* 

“O que a Educação significa para você?” Uma pergunta simples à primeira vista, mas que carrega consigo uma profundidade de significados, especialmente quando direcionada às pessoas que estão discutindo a educação do futuro. Para muitos, a educação é esperança. Para outros, é a chance de descobrir novos horizontes, de construir sonhos e ampliar as capacidades humanas. Mas, para além das respostas individuais, a educação é um fenômeno complexo e multifacetado, que se expande para além dos muros da escola.

Compreender essa dimensão múltipla da educação, como indica Bakhtin (1992¹), requer vê-la como um signo. E o signo, segundo o autor, “não é apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade” (p. 33). A educação, portanto, não é apenas um termo que usamos para descrever um processo; é o resultado de um modo específico de ver o mundo, permeado de valores, pressupostos e condicionantes sociais. Ela reflete as realidades vividas, ao mesmo tempo, molda essas realidades.

Então, como tarefa preliminar a uma reflexão crítica sobre o futuro, necessária em tempos de rápidas mudanças tecnológicas, parece-nos apropriado levantar a questão: “O que a educação significa para você?”. A insistência nessa pergunta, longe de ser uma provocação sem propósito, busca promover um debate mais profundo sobre os saberes e valores essenciais para o futuro.

O debate está aberto. 

 

Perspectivas históricas e evolução da educação

Desempacotando a biblioteca, em um exercício Benjaminiano², encontramos vozes que deixam algumas respostas para a questão. No pensamento clássico grego, sobretudo em Platão e Aristóteles, a Paideia era entendida como um conceito de educação integral, que englobava não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também o moral, físico e cultural. Seu objetivo era formar cidadãos preparados para participar ativamente da vida pública e política da pólis. A Paideia promovia a ideia de que a educação deveria contribuir para o pleno desenvolvimento do ser humano, integrando ética, arte, filosofia, conhecimento e prática física, moldando assim indivíduos capazes de agir com responsabilidade social e discernimento crítico.

Se, em um nível individual, de um determinado tempo histórico, a educação é compreendida como o desenvolvimento completo do ser humano, em um nível social, em outra parte da história, ela é vista como um instrumento de transformação. Autores como Paulo Freire defenderam que a educação deve ser uma prática libertadora, uma ferramenta de conscientização crítica que possibilite aos educandos perceberem sua realidade e atuarem para transformá-la. Nesse sentido, a educação vai além da mera transmissão de saberes; ela se torna uma prática de empoderamento e emancipação, onde o aprendizado se entrelaça com a ação social.

Com o passar do tempo, a educação foi consolidada como um direito humano fundamental. A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 205, afirma: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade". Complementando, o artigo 208, inciso I, assegura: "A educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, garantida inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria". Também no artigo 206, IV e VII, há a previsão de "gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais" e a "garantia de padrão de qualidade", reiterando a centralidade da educação na construção de uma sociedade justa e equitativa.

Educação para transmissão de conhecimentos. Educação para a formação integral do indivíduo, orientando-o para o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, sociais e emocionais. Educação para superação das desigualdades e na minimização das fragilidades e vulnerabilidades humanas que se encontram tão alargadas na sociedade. Educação para a transformação social e com a busca do aperfeiçoamento do indivíduo, tendo em vista o seu o inacabamento.  

Essas são apenas algumas das vozes que emergem ao longo das relações sociais cotidianas quando se discute a educação. O debate, porém, não requer julgamento de valor, mas sim a disposição para escutar e observar, tanto com racionalidade quanto com sensibilidade, o lugar dessas vozes.

O cenário educacional atual reflete as profundas transformações econômicas, políticas e sociais que estão remodelando a vida das pessoas, suas interações com a sociedade e suas formas de moldar o mundo. À medida que o sistema educacional se ajusta a essas mudanças, surgem outras concepções de educação. É nessa complexidade de significados e na tensão entre suas diversas interpretações que a educação do futuro se posiciona. 

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A educação do futuro  

As discussões sobre a educação se complexificam à medida que novas demandas emergem: a transformação digital, o avanço da inteligência artificial e a necessidade de promover uma educação inclusiva e equitativa estão no centro dos debates atuais. Temas que foram discutidos no II Encontro de Educadores do Século XXI, realizado pela Casa Firjan em setembro de 2024.  

O evento reuniu educadores, especialistas e representantes governamentais para refletir sobre o futuro da educação, abordando questões como a inteligência artificial, ensino médio integrado à educação profissional, avaliação para equidade, ecossistema de aprendizagens, educação como base dos direitos humanos, escola antirracista, convívio escolar, educação ambiental, tensionamento entre escolas e favelas e a perspectiva ancestral da educação.

Conversas, como as que aconteceram no Encontro, são fundamentais para a construção de um diálogo aberto sobre a educação do futuro. Pois não se trata de encontrar uma única resposta ou caminho, mas de reconhecer as múltiplas vozes e perspectivas que compõem esse campo. O futuro da educação será, sem dúvida, moldado por esses diálogos.

Por isso, o debate, como espaço de aceitação de variadas vozes continua aberto. Então, nos diga: o que a Educação significa para você? 

*Luciana Chamarelli é Pedagoga do Programa de Formação de Educadores da Casa Firjan. Pesquisadora do Laboratório de Linguagens e Ambientes de Aprendizagem hipertextual do Programa de Pós-Graduação da UERJ, Mestre em Educação Brasileira pela PUC-Rio e Pedagoga pela UFRJ.